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Deixa subir, deixa subir pr’a longe
Tudo que fere nossas almas;
Deixa ficar, deixa ficar e esconde
Todas as facas.
Deixa jorrar o sangue do inimigo
Para adubar a terra;
Deixa chorar, deixa chorar os filhos
E quem se desespera.
Deixa acabar, deixa acabar toda esperança
E todo afeto mútuo;
Deixa nascer, deixa nascer a trama
Do Absoluto.
Deixa que eu morra sem nenhum sinal
De saudade ou lamento;
Deixa que saibam a causa do meu mal
Por um breve momento;
Só não deixa que as asas daquele anjo
Que todo dia eu vejo,
Sejam cobertas pelo manto
De outro desejo.
Só não deixa minha arte atemporal
Ser maculada
Pela forma decrépita e banal
Da verve avara.
Só não deixa o amor - meu companheiro -
E tão fiel,
Conceber o poema derradeiro
Numa taça de fel.
Nem deixe a luz do verso luzidio
Fenecer, expirar
Como fenece e expira um grande rio
Quando encontra o mar.
Só não deixa que eu fale.
Deixa que cale.
Deixa-me inútil dedicar o tempo
Ao labirinto do meu pensamento.
Perdizes, agosto de 2009
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