"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.” (Bernardo Soares)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Soneto


Os meus sonhos de amor são dois velhinhos,
Enrolados na manta da agonia;
Só se alegram ao ouvir os passarinhos
Que a Esperança alimenta todo dia.

Quando jovens, colhiam dos caminhos
Rosas de prata que a manhã trazia;
Não lhes magoava os ásperos espinhos
Nem tampouco o nascer da aragem fria.

Prelúdio outonal, ânsias de abandono:
Todas as rosas, já com muito sono,
Fenecem na aridez de outra estação;

Da mesma forma os sonhos vão dormir:
Encorajados sempre a prosseguir
Terminam por murchar no coração.
Araxá, em 2010

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