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O corpo atávico do louco
É meu objeto de poesia:
Se co’ ele escrevo muito ou pouco
O que me vale é o arroubo
Da sua forma retilínea.
Não é um corpo como os outros,
É mais orgânico e sadio;
Quando se molha, vai, aos poucos,
Alimentando-se do rio.
Não é a vida que o pranteia,
Tampouco o sol que no céu arde;
Nem mesmo a aurora prazenteira
Aclara o escuro de sua tarde.
Não é desejo o que possui,
Nem é veneno o que o mata;
É mais aborto do que luz,
É mais diamante do que prata.
Não se aclimata nesse clima
De dias quentes, noites mais.
Quisera tempo de neblina
Com nuvens sujas de cristais.
As roupas - meros artifícios –
Nunca lhe servem com primor.
O corpo vale por seus vícios,
O maior deles é o amor.
Sapatos flácidos, furados,
Sem sola, soltos nos contornos
Dos pés escravos dos sapatos,
Sapatos vítimas dos donos.
Os óculos de impróprio grau,
De lentes densas de miragens,
Dão a ilusão de que faz mal
Deixá-los castos de saudades.
As calças velhas remendadas
Mui companheiras da sujeira
Que habita os trilhos e as estradas
E deixam pó na penteadeira.
Tudo isso, o corpo, quando morto,
Mal saberá por que valia
Os homens trocam o conforto
De andarem nus como o faziam.
O corpo nunca é repasto
Mesmo que a morte dele coma.
O corpo do homem ou do sapo.
A mesma carne, o mesmo aroma.
O louco segue, e não entende
Por que ganhara essa matéria;
Não se debocha de um presente,
Mesmo que seja a própria terra.
Perdizes, setembro de 2009
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