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A Jenny Galdino
A bailarina o véu trespassa
Com gestos fúlgidos de moça:
O que de dança ela mantinha,
O que de mel tinha na boca.
O que de simples fosse a dança
Em pano, sapatilhas novas:
São sapatilhas de criança
De pé alheio a novas provas.
O que de jovem pareceu
Dançar sapatos velhos,
O que da vida pereceu
Andar com passos cegos.
O mundo a bailarina pisa
A dor da dança ela comete:
Na alma, não nos pés,
A bailarina se reflete.
É comovente essa linguagem,
É nebuloso aprendizado:
A dança nela é tinta-guache
Em quadro novo, inacabado.
Outras platéias quer agora,
Outros teatros redourados
A bailarina rememora
Vernizes visuais e vários.
Agora dança em outra órbita
Em outro estágio se mantém:
Acaricia a luz sonora
E faz o ritmo de refém.
Um passo... dois... três passos grandes
No palco estranho destas formas;
Um sonho novo que se expande
Sem normas.
Em tudo fica um céu aberto
Quando ela dança, lenta câmera:
O corpo claro, circunspecto,
Cortando o vento feito lâmina.
O giro entanto só é perfeito
Se há alguém a acompanhá-lo:
Dois corpos livres, desespero
De abandonar o ser estático.
Nos vãos do solo o rodopio
Dos passos castos, vasto embalo:
Um gesto franco no delírio,
Estilo só de abandonado.
Talvez o ritmo da passista
Explique mais do que o silêncio,
Penumbra de paisagem prisca,
Afago, vôo, contentamento.
Talvez não saiba por que dança,
Por que aprendera o andar das plumas:
Só quer o encontro de outros passos,
Para poder dançar na chuva.
Araxá, maio de 2010