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__ Ele me parece terrivelmente infeliz!... - disse a garota que o observava, a fumar, encostado à janela.
__ Sim, é muito infeliz. Mas tem um ar tão superior que a maioria das pessoas pensa que a vida lhe deu apenas dias bons. Escolheu o caminho mais difícil - o da Arte - não só a Arte como um objetivo, na maioria das vezes fútil; ele vive essa Arte, contempla o céu de uma forma que eu jamais conseguiria... Arte vivida. Além disso, sente demasiado. Entrega-se ao amor de forma estarrecedora, vive-o em cada respiro, busca a mulher amada em cada pensamento, desespera-se em cada gesto. Eu sei que ele ainda ama, ama da mesma forma que antes, mas agora é pior: ele ama e despreza, deseja e odeia. Se você soubesse a quem ele vota todos os seus dias, ficaria estarrecida. A mulher a quem ele adora - pois ele em verdade a adora - é o oposto de sua opulenta erudição.
__ Ela o desprezou? - indagou a jovem.
__ Sim. Talvez por simples capricho de mulher inexperiente e tola, ou
talvez ainda por medo. Medo de se confrontar com tamanha sensibilidade, tamanha entrega por parte dele. Medo até mesmo de que ele, ao contemplá-la com os olhos cruéis da realidade, tomasse-a pela forma com que ela mesma se vê.
__ Um homem desses deve ser um abismo imenso, um ser de matizes raros.
__ Venha comigo, eu to apresentarei.
Perdizes, outubro de 2009