"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.” (Bernardo Soares)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Clown

Tenho sido o palhaço sem circo
Mas que inda usa maquiagem.
Trago em minha bagagem
A persona que visto
E outra apenas vontade.

De mui longe eu vim
Para dar espetáculo.
Entro no último ato,
Quando a platéia foge.
Tenho tantos sorrisos
Quanto dores no alforge.

Nestes gestos bizarros
De palhaço em declínio
Eu escondo meus traços
Sob o véu do fascínio.
Piruetas de símio
Vão me dando contrastes.
Mas o que tu não sabes
Eu o sei desde há muito:
Nunca tive o intuito
De fazer-me palhaço.

Pobre de todas as máscaras
Eu ainda as trago à face:
Elas não sabem que escárnio
Possui o sol quando nasce.

Não entendem a loucura
Irmã do infame palhaço.
A chaga aberta supura
Quando ao sorriso me enlaço...

Supérfluo desejo de riso
Desperta a fúria do que chora:
Eu, como palhaço,um cínico.
Mas isso a platéia inda ignora...

2 comentários:

carmen silvia presotto disse...

João Paulo, parabéns pela tua poesia... e ao te ler me pergunto de quantas peles somos tecidos, de quantas máscaras precisamos nos despir para sermos compreendidos?... Que a Poesia siga nos cohabitandorf e quando der visita Vidráguas.

Um abraço poético.

Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br

carmen silvia presotto disse...

Em tempo, perdão por alguns erro de digitação, coisas das teclas!!!