"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.” (Bernardo Soares)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Metamorfose Ambulante

A katlin Alves


Não prefiro ser nem o que sou
Nem Metamorfose.
Tu também,
Se fome tiveres de Além,
Alçarás vôo.
Enquanto que eu
Como um homem que nunca bebeu
Estou.
E já que sou
Meu próprio pai, quem sabe avô
Partilharei contigo
Em gesto sóbrio de amigo
Metamorfo, metonímio,
Minha primeira dose.
Talvez a lenda
Da lagarta tornando borboleta
Ou vice-versa
Seja verdade.
Se somos hoje, ontem fomos.
Mas não propomos ser quem somos.
Daí a fatalidade
Da Metamorfose nunca vir a tornar-se
Realidade.


Araxá, junho de 2011

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