"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.” (Bernardo Soares)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Rede

Não é que o Facebook seja a rede
para socializar a quem tem sede
de se fazer notório.
É algo bem mais simples, mas não pense
ser simplório. O que de fato acontece
não é o Facebook ser teia, nem quem tece.
É um entrelaçado apenas
De existências em senhas.

Mas nele posto, e se o meu rosto
no canto esquerdo fica exposto,
sou apenas mais um que não se mostra.
É sombra apenas do que somos
este nosso avatar desnecessário.
Façamos, pois, de nossa máscara
um espelho barato que descasca
e deixa entrever a forma nua
que tentamos esconder,
mas que teima e se insinua

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Tem 18 anos, mora na casa dos pais e por eles é sustentado. Trabalha - ou melhor, passa o dia num subemprego. Na faculdade interiorana cerca-se de meninas mais preocupadas com a cor do próprio cabelo do que com a disciplina chata na lousa. Tenta passar uma imagem descolada e irresistível, apesar de sentir-se inseguro e ter medo quando está sozinho. Usa o Facebook como se fosse um grupo de terapia, pois só posta frases baratas de autoajuda, e sente-se valorizado quando seus pares as curtem e comentam. Na chegada do fim de semana, vai "beber e moer". Talvez seja apenas uma fase da vida, algo como brincar de ser adulto e poder fazer tudo o que quiser, uma inestimável libertação da infância. Mas que me dá náuseas e me faz desacreditar desta geração, isso dá...